Este artigo foi publicado inicialmente na revista Seguridad y Poder Terrestre
Vol. 3 Nº 2 (2024): abril a junho
Resumo
As redes sociais têm se mostrado uma ferramenta poderosa para a comunicação, a participação dos cidadãos e a disseminação de informações relevantes. Nas esferas social, política e cultural, elas facilitaram a organização de protestos, a disseminação de diversas expressões culturais e a participação em debates sobre questões importantes. Para os Estados e usuários comprometidos com o uso eficiente dessas plataformas na luta por informações oportunas, é aconselhável incentivar a transparência na disseminação de dados, verificar a veracidade das notícias antes de compartilhá-las, promover um diálogo construtivo e respeitoso on-line e estar atento à desinformação e à manipulação nesses espaços. É essencial que tanto os Estados quanto os usuários se comprometam a usar as redes sociais de forma responsável, ética e consciente, aproveitando seu potencial para informar, educar e mobilizar a sociedade em favor de causas justas e relevantes.
Palavras-chave: Redes sociais, Participação cidadã, Desinformação, Cyberbullying, Democratização.
Em sua busca constante pela atenção do público, as mídias sociais geraram uma dependência excessiva da tecnologia, transformando muitos indivíduos em autômatos das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). Essa dependência da interação digital resultou em uma diminuição da capacidade de reflexão crítica e de tomada de decisões com base no conhecimento real. É essencial questionar o impacto da mídia social sobre a capacidade das pessoas de pensar de forma independente e crítica e buscar um equilíbrio entre a tecnologia e o desenvolvimento de habilidades cognitivas e analíticas. Inicialmente, o curso explorará os aspectos positivos e negativos do uso das mídias sociais e, em seguida, se aprofundará na busca de um equilíbrio digital. Ele também contribui para o debate e a ação em favor do uso responsável da mídia social e da implementação de tecnologias digitais para um desenvolvimento mais inclusivo e sustentável no futuro.
Após o início da pandemia, o uso das mídias sociais teve um aumento considerável em todo o mundo. Quase três anos após a pandemia, os hábitos de navegação na Internet tornaram-se parte de nossa rotina diária e o uso dessas plataformas parece que continuará a crescer. O nível de adoção das mídias sociais nas Américas é notável. A situação na região é particularmente interessante quando se considera que, apesar da existência de indivíduos que não têm acesso a alimentos básicos, essas plataformas são parte integrante de suas vidas diárias.[1]
A mídia social tornou-se uma ferramenta onipresente na vida diária de milhões de pessoas em todo o mundo, transformando a maneira como nos comunicamos, nos informamos e nos relacionamos uns com os outros. No Peru e em escala global, essas plataformas tiveram um impacto relevante como uma mídia alternativa na sociedade, com um potencial significativo de contribuição para o progresso nacional. Por outro lado, as mídias sociais democratizam o acesso à informação e ao conhecimento, permitindo que indivíduos de diferentes regiões do país tenham acesso a notícias, pesquisas e recursos educacionais. De acordo com o relatório do Banco Mundial (BM),[2] O uso da Internet e das mídias sociais teve um crescimento notável nos últimos anos, com aproximadamente 70% da população tendo acesso à Internet até 2022. Essa democratização do conhecimento capacita as pessoas, permitindo que elas participem ativamente da sociedade e tomem decisões informadas.
Além disso, as redes sociais facilitam a comunicação e a colaboração entre pessoas de diferentes culturas, origens e interesses, promovendo a participação cidadã e a formação de comunidades virtuais. Conforme destacado pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL),[3] elas têm desempenhado um papel fundamental na coordenação e no ativismo dos movimentos sociais na região, como evidenciado pelas manifestações no Chile e na Colômbia em 2019. Essa conexão global permite a troca de ideias e experiências, fortalecendo a democracia e a construção de uma sociedade mais equitativa e justa.
Da mesma forma, as SSNRs permitem a organização e a disseminação de movimentos sociais, campanhas de conscientização e ativismo digital, impulsionando mudanças sociais e a defesa de causas importantes. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) observa que as plataformas sociais têm sido usadas com eficácia para promover questões como educação, saúde, sustentabilidade ambiental e direitos humanos.[4] É essencial analisar a influência emocional das TICs e das mídias sociais em nossas vidas, tentando manter um equilíbrio entre a interação on-line e off-line, especialmente em ambientes educacionais em momentos como a pandemia. De acordo com as palavras de Raquel Caballero, é vital reconhecer a relevância de dedicar tempo à reflexão e ao desenvolvimento de novas ideias e estratégias, encontrando momentos de silêncio.[5] Portanto, as mídias sociais não servem apenas para a comunicação com outras pessoas, mas podem contribuir para a integração social e a participação na criação de um sistema social mais equitativo e vantajoso para as gerações futuras, conforme expresso por Requena Santos, como mencionado por Barataria em 2011.[6]
As estatísticas mais recentes da GSMA Intelligence[7] mostram que agora existem 5,6 bilhões de assinantes móveis exclusivos em todo o mundo, o equivalente a 69,4% da população global. No último ano, a adoção da telefonia móvel aumentou 2,7%, com 145 milhões de novos usuários. Da mesma forma, o número de pessoas que acessam a Internet cresceu 3,7% no mesmo período, chegando a 5,3 bilhões em outubro de 2023, representando 65,7% da população mundial. Apesar desses números encorajadores, os atrasos nos relatórios sugerem que a penetração real da Internet poderia ser ainda maior, destacando a importância de abordar a exclusão digital e aproveitar ao máximo as oportunidades que essas tecnologias oferecem para o desenvolvimento.
Na área de desenvolvimento e promoção global da SSR, os países são responsáveis pela implementação de vários procedimentos. Entre eles está a cooperação regional, que permite a troca de experiências e melhores práticas entre países do mundo todo. Além disso, é fundamental desenvolver projetos conjuntos para expandir a cobertura da Internet e promover a alfabetização digital, incentivando a criação de conteúdo local e a colaboração entre os atores locais. A redução da exclusão digital também é fundamental, por meio da implementação de políticas públicas específicas que busquem reduzir a disparidade tecnológica entre países e grupos socioeconômicos, promovendo a inclusão digital de populações indígenas, afrodescendentes e rurais. Também é essencial fornecer acesso à Internet e treinamento digital para pessoas com deficiência, garantindo que todos os setores da sociedade possam se beneficiar das oportunidades oferecidas pelas TICs.
No caso específico do Peru, o país está buscando incentivar o uso adequado das mídias sociais por meio do fortalecimento da infraestrutura digital, da expansão da cobertura da Internet em áreas rurais e comunidades marginalizadas e da implementação de programas subsidiados de acesso à Internet para populações de baixa renda. Além disso, estão sendo feitos investimentos na modernização da infraestrutura digital do país, na promoção da alfabetização digital por meio de treinamento gratuito no uso de mídias sociais, na introdução de programas de educação digital em instituições educacionais e no estímulo à criação de conteúdo educacional e cultural nos idiomas locais. É essencial estabelecer uma estrutura regulatória que proteja a privacidade dos usuários, combata a desinformação, promova a diversidade de conteúdo e incentive seu uso responsável para a educação, a participação dos cidadãos e o desenvolvimento econômico.
As mídias sociais oferecem novas oportunidades para a criação de negócios, a promoção de produtos e serviços e o desenvolvimento da economia digital. Um estudo do Ministério da Produção (Produce) indica que, em 2022, o comércio eletrônico no Peru aumentará 20%, impulsionado principalmente pelo uso das mídias sociais como um canal de vendas.[8] Esse crescimento econômico gerou empregos, melhorou a qualidade de vida das pessoas e reduziu a pobreza. No entanto, o crescimento das mídias sociais no mundo, e particularmente no Peru, também apresenta riscos e desafios que precisam ser considerados pelo Estado e pela sociedade como um todo.
Aspectos positivos das redes sociais
Acesso à informação. As plataformas sociais expandiram o acesso à informação e ao conhecimento globalmente, permitindo que indivíduos de diferentes culturas, níveis socioeconômicos e localizações geográficas acessem uma ampla variedade de recursos, como notícias, pesquisas, artigos acadêmicos, e-books e cursos on-line. Na educação, várias instituições se uniram para oferecer cursos on-line apoiados por plataformas sociais, como a Coursera, uma plataforma de aprendizado on-line que oferece cursos gratuitos e pagos das principais universidades do mundo, bem como a Khan Academy, uma organização sem fins lucrativos que oferece educação de alta qualidade por meio de vídeos e exercícios interativos.[9] Apesar desse progresso, ainda há uma acentuada exclusão digital entre territórios e setores socioeconômicos, o que exige que as nações invistam em infraestrutura digital, promovam a alfabetização tecnológica e formulem políticas públicas para mitigar essa desigualdade. Empresas como o Facebook, a rede social mais usada na América Latina, com mais de 400 milhões de usuários ativos, o WhatsApp, o principal aplicativo de mensagens da região, com mais de 600 milhões de usuários ativos, e o Twitter, uma plataforma de microblogging que permite que os usuários compartilhem notícias, opiniões e ideias, também desempenham um papel crucial na redução da exclusão digital.
No Peru, o Ministério da Educação (MINEDU) lançou a plataforma “Aprendo en Casa” (aprendo em casa), que usa a mídia social para oferecer educação a distância a alunos de todo o país. De acordo com o relatório “Peru: Perfil Sociodemográfico 2022” do Instituto Nacional de Estatística e Informática (INEI), 71,2% dos indivíduos com mais de 14 anos de idade navegaram na Internet nos últimos 12 meses. Como resultado, as mídias sociais aumentaram as oportunidades de acesso à informação, promovendo a educação à distância, o desenvolvimento de habilidades digitais e a participação dos cidadãos. No entanto, ainda existem desafios, como a exclusão digital nas áreas rurais e a falta de habilidades digitais em determinados setores da população.
De acordo com a Ipsos,[10] o Facebook lidera com 84% de penetração entre os usuários peruanos, seguido pelo YouTube com 60% e depois pelo Instagram com 46%. Outras redes sociais populares incluem o TikTok com 37%, o Twitter com 13% e o LinkedIn com 6%. Em relação aos aplicativos de mensagens, o WhatsApp se destaca com 89% de penetração, seguido pelo Messenger, com 44%, e pelo Telegram, com 18%. Isso sugere que o Facebook continua sendo a principal plataforma de comunicação, informação e entretenimento no Peru, enquanto o YouTube e o Instagram estão se consolidando como plataformas de consumo audiovisual. O TikTok está ganhando terreno entre os jovens e o WhatsApp está consolidando sua posição como o aplicativo de mensagens preferido para comunicação pessoal e profissional.
Conectividade e participação. Como ferramentas de comunicação e colaboração, as mídias sociais facilitam a conexão entre indivíduos de diversas culturas, origens e interesses, promovendo assim a participação cidadã e a formação de comunidades virtuais. De acordo com os dados fornecidos pelo Statista em 2022, na América Latina e no Caribe (LAC), essas plataformas ganharam um peso significativo, com mais de 306 milhões de usuários somente na região da América do Sul. Esse crescimento é atribuído à maior acessibilidade à Internet e ao crescimento da conectividade móvel. Países como o Caribe, o Peru, o Paraguai e a Bolívia tiveram melhorias notáveis em termos de acesso à mídia social. No entanto, o Brasil e o México continuam a liderar em termos de audiência, com 165 milhões e 98 milhões de usuários, respectivamente.[11]
Mobilização social. As RSSS adquiriram um papel fundamental na mobilização social, possibilitando a organização e a disseminação de movimentos sociais, campanhas de conscientização e ativismo digital, promovendo, assim, mudanças sociais e a defesa de causas importantes. Elas revolucionaram a comunicação e a participação dos cidadãos ao expandir as oportunidades de interação e acesso à informação, permitindo que as pessoas se conectem com pessoas de todo o mundo, compartilhem ideias e opiniões e participem de debates sobre questões relevantes, superando as limitações geográficas e democratizando o acesso à comunicação.[12]
A democratização fomentada pela SSNR promoveu a participação em vários contextos, como social, político e cultural. No aspecto social, observamos a organização de protestos, eventos, arrecadação de fundos e colaboração entre diferentes atores. Em nível político, essas plataformas são usadas para disseminar informações, denunciar injustiças, organizar campanhas de pressão e participar da tomada de decisões. Na esfera cultural, destacam-se a disseminação de diversas expressões culturais, o debate e a reflexão sobre questões sociais, contribuindo assim para a construção de uma sociedade mais tolerante e inclusiva. No entanto, surgem desafios como a desinformação, o cyberbullying e a manipulação, que podem minar a legitimidade dos movimentos sociais, impedir a participação e ser explorados por atores com agendas específicas para cooptar ou desviar os movimentos sociais.[13]
Em resumo, as mídias sociais são ferramentas poderosas para a comunicação e a participação dos cidadãos. Se usadas com responsabilidade, elas podem contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, democrática e igualitária.
As SSNR são ferramentas poderosas para a comunicação e a participação dos cidadãos. Se usadas com responsabilidade, elas podem contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, democrática e igualitária. Exemplos em todo o mundo, na América do Sul e especificamente no Peru, destacam seu impacto, como a Primavera Árabe, em que as redes sociais desempenharam um papel crucial na organização e na disseminação de protestos que derrubaram governos no mundo árabe; o Movimento Black Lives Matter, que usou essas plataformas para divulgar sua mensagem e organizar protestos contra a violência racial; e o movimento #MeToo, que teve origem no Twitter e se tornou uma onda global de ativismo contra o assédio sexual.
Na América Latina, o movimento #NiUnaMenos,[14] que surgiu na Argentina para denunciar a violência contra as mulheres, se espalhou por toda a região.[15] No México, o caso YoSoy132[16] surgiu nas mídias sociais como uma resposta à manipulação da mídia nas eleições presidenciais de 2012. Na Bolívia, o movimento #EleccionesSinFraude foi usado para denunciar irregularidades nas eleições de 2019. No caso de Puno, no Peru,[17] os protestos contra o projeto de mineração Tia Maria usaram as mídias sociais para organizar manifestações, divulgar informações sobre o projeto e obter apoio para a causa.
Essa situação permitiu a democratização da informação, possibilitando que qualquer indivíduo acesse dados e os compartilhe com outras pessoas; a descentralização da ação coletiva, ampliando a participação em movimentos sociais para além das elites tradicionais; e a capacidade de viralização, facilitando a rápida disseminação de ideias e mensagens globalmente.
Empreendedorismo e desenvolvimento social e econômico. As SSNs se tornaram ferramentas poderosas para o empreendedorismo, oferecendo novas oportunidades para a criação de negócios, promoção de produtos e serviços e desenvolvimento da economia digital. De acordo com uma pesquisa realizada pela Expansion, 85% das pequenas e médias empresas usam as redes sociais para fazer vendas on-line.[18] Da mesma forma, o El Diario El Economista informa que as plataformas permitem que os usuários compartilhem suas experiências, e 77% dos consumidores procuram ler uma avaliação de produto antes de fazer uma compra.[19] Um estudo de caso de destaque foi a Glossier,[20] uma marca americana de cosméticos que obteve grande sucesso desde 2010 graças à sua estratégia de marketing de mídia social. A empresa usa o Instagram para se conectar com seu público-alvo, criar conteúdo envolvente e comercializar seus produtos.
O uso generalizado das mídias sociais permitiu que as empresas oferecessem preços reduzidos a seus clientes, pois são ferramentas de baixo custo ou gratuitas, tornando-as acessíveis a empresários com orçamentos limitados. Elas também facilitaram a expansão global ao atingir um público amplo e diversificado, tanto local quanto internacionalmente. A interação com os clientes foi fortalecida porque as redes sociais permitem que as empresas interajam com eles, entendam suas necessidades e preferências e lhes ofereçam atenção personalizada. Elas também contribuíram para a retenção de clientes ao estabelecer relacionamentos duradouros que os transformam em defensores da marca. As vendas on-line também aumentaram graças à oferta direta de produtos e serviços por meio de plataformas como o Facebook Marketplace ou o Instagram Shopping. Se usadas de forma eficiente, fica claro que elas podem contribuir para o avanço dos negócios, a disseminação de produtos e serviços e o impulso da economia digital.
De acordo com um artigo publicado na revista “Psicología y Mente”,[21] destaca-se que as plataformas sociais têm o potencial de estimular a criatividade, facilitar a comunicação e promover a interação social, enfatizando sua capacidade de fortalecer os laços sociais e fornecer apoio emocional. Portanto, é essencial aproveitar os benefícios dessas redes para o crescimento social e educacional das próximas gerações, promovendo seu uso como ferramentas de ensino e cooperação.
Aspectos negativos das redes sociais
Desinformação e notícias falsas. De acordo com o estudo do Pew Research Center (2021), 64% dos usuários de Internet na América Latina reconheceram ter encontrado notícias falsas nas mídias sociais. Da mesma forma, o relatório de 2023 destaca que a desinformação representa uma ameaça à democracia e aos direitos humanos, uma vez que pode minar a confiança nas instituições e promover a polarização social. Um exemplo relevante é o caso das eleições presidenciais no Brasil em 2022, em que as campanhas de desinformação em comunidades virtuais desempenharam um papel fundamental, contribuindo para a divisão do eleitorado.
Nesse sentido, elas representam um potencial considerável para a disseminação de informações. Entretanto, seu uso inadequado pode resultar na propagação de conteúdo falso e tendencioso, o que pode levar à tomada de decisões erradas, tanto em nível individual quanto público. Isso pode levar a uma diminuição da confiança nas instituições democráticas, como governos, mídia e empresas, pois a desinformação tem o potencial de minar a credibilidade concedida a elas. Além disso, a disseminação de dados errôneos e tendenciosos pode promover a polarização social, segmentando a população em facções com posições opostas e irreconciliáveis
Cyberbullying e violência digital. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF)[22] define o cyberbullying como o ato de assédio ou bullying por meio de tecnologias digitais. Essa forma de bullying pode se manifestar em mídias sociais, plataformas de mensagens, jogos on-line e dispositivos móveis. É um comportamento repetitivo que visa a provocar medo, raiva ou humilhação em outras pessoas. As estatísticas relacionadas a esse flagelo são preocupantes e mostram a gravidade do problema. Relatórios recentes da UNESCO (2017, 2019) e do UNICEF (2018, 2020)[23] mencionam que aproximadamente um em cada três estudantes (32%) já foi vítima de cyberbullying, enquanto 31% dos adolescentes admitem ter praticado bullying contra seus colegas. De acordo com um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU),[24] o bullying digital afeta a dignidade das vítimas de forma notavelmente pública, permitindo que terceiros contribuam para ridicularizar e apoiar conteúdos abusivos ao aprová-los, respondê-los ou compartilhá-los. Um caso emblemático é o de Amanda Todd, uma adolescente canadense que tirou a própria vida em 2012 após sofrer assédio on-line e violência digital.[25] Nesse sentido, é fundamental destacar que o cyberbullying e a violência on-line podem ter consequências devastadoras para as vítimas, como danos à autoestima, depressão, ansiedade, isolamento social e, em situações extremas, suicídio.
Vício e problemas de saúde mental. O uso excessivo das mídias sociais pode desencadear uma série de problemas de saúde mental, como dificuldades de concentração, ansiedade, depressão e dependência. Um estudo de 2016,[26] realizado por Przybylski e Weinstein com mais de 450 adolescentes constatou que o aumento do tempo gasto nessas plataformas, especialmente à noite e com grande investimento emocional, está relacionado à má qualidade do sono e a níveis elevados de ansiedade e depressão. Além disso, o estudo de caso de Tristan Harris, ex-funcionário do Google,[27] apoia essas preocupações ao alertar sobre os riscos da mídia social e sua capacidade de levar ao vício e afetar o bem-estar emocional.
Consequentemente, o abuso de espaços sociais on-line pode levar a dificuldades de concentração, devido a notificações constantes e sobrecarga de informações, o que pode interferir na capacidade de atenção. A ansiedade pode surgir da comparação social, do medo de ficar de fora e da exposição a conteúdo negativo. A depressão pode resultar de baixa autoestima, sentimentos de isolamento e privação de sono. Por fim, o vício pode levar a um comportamento compulsivo e à perda de controle sobre o tempo gasto nessas plataformas.
Exclusão digital. O acesso desigual à Internet e às tecnologias digitais, conhecido como exclusão digital, limita as oportunidades de desenvolvimento para as comunidades marginalizadas, aprofundando a desigualdade social. De acordo com o estudo do Banco Mundial,[28] apesar dos avanços tecnológicos, a desigualdade digital continua sendo uma realidade em 2023. Um terço da população mundial, equivalente a 2,6 bilhões de pessoas, ainda não tem acesso à Internet. Essa disparidade se reflete no contraste entre os países de alta renda, onde mais de 90% desfrutam do serviço, e os países de baixa renda, onde apenas uma em cada quatro pessoas tem a mesma oportunidade. Isso significa que 850 milhões de pessoas não têm a identificação necessária para acessar a Internet e, em muitos casos, não têm as habilidades básicas para usá-la de forma eficaz. Essa situação limita as oportunidades de desenvolvimento econômico e social, aprofundando a desigualdade global.
De acordo com o relatório da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe CEPAL (2023), a exclusão digital na América Latina e no Caribe é uma das maiores do mundo, limitando o desenvolvimento econômico e social na região. No caso específico do Peru,[29] em 2023, as áreas urbanas terão 21,4% mais acesso à Internet móvel do que as áreas rurais. Além disso, seis regiões não ultrapassam 80% de acesso à Internet móvel, o que restringe as oportunidades de desenvolvimento econômico e social para as pessoas que vivem nessas áreas.
Portanto, a exclusão tecnológica tem várias consequências negativas para as comunidades marginalizadas. A exclusão social se manifesta na falta de acesso à Internet e às tecnologias digitais, o que priva as pessoas de oportunidades de educação, emprego, informação e participação social. A discriminação é exacerbada, pois a disparidade tecnológica pode intensificar a segregação contra essas comunidades, limitando seu acesso a informações e recursos. A desigualdade financeira também é exacerbada, pois a divisão tecnológica restringe as oportunidades de desenvolvimento econômico ao impedir o acesso a mercados digitais e a novas tecnologias. Considerando os aspectos positivos e negativos das mídias sociais, é imperativo implementar estratégias educacionais que incentivem o uso consciente da tecnologia, promovam a reflexão crítica e fortaleçam a capacidade de discernimento das gerações futuras. Isso permitirá que as pessoas não sejam meras receptoras de informações digitais, mas agentes ativos capazes de tomar decisões informadas e autônomas em um ambiente cada vez mais tecnológico. Considerando os aspectos positivos e negativos da mídia social, é imperativo implementar estratégias educacionais que incentivem o uso consciente da tecnologia, promovam a reflexão crítica e fortaleçam a capacidade de discernimento das gerações futuras. Isso permitirá que as pessoas não sejam meras receptoras de informações digitais, mas agentes ativos capazes de tomar decisões informadas e autônomas em um ambiente cada vez mais tecnológico.
Em relação à mídia social e sua influência na sociedade latino-americana, surgem as seguintes perguntas que exigem análise, por exemplo:
Por que é importante questionar como as RRSS afetam nossa capacidade de pensar de forma independente? A análise do efeito da mídia social na capacidade de pensar de forma independente busca proteger nossa autonomia cognitiva e evitar a influência indevida das plataformas digitais em nossas opiniões e decisões. De acordo com um relatório da revista Forbes,[30] O uso excessivo das mídias sociais pode levar à conformidade cognitiva, em que as pessoas adotam opiniões e comportamentos influenciados pela pressão social on-line em vez de seu próprio julgamento crítico. Além disso, de acordo com um estudo realizado pela Universidade de Stanford, a exposição constante a informações tendenciosas nas mídias sociais pode distorcer a percepção da realidade e enfraquecer a capacidade de reflexão independente. Ao analisar o impacto dessas plataformas no pensamento autônomo, a resiliência cognitiva é fortalecida e a manipulação de informações on-line é neutralizada. Isso facilita o desenvolvimento de uma análise mais profunda, a discriminação entre fontes confiáveis e o questionamento ativo da veracidade das informações.
Como podemos desenvolver habilidades cognitivas e analíticas em um mundo dominado pela tecnologia? Em um contexto em que a tecnologia exerce grande influência, é fundamental desenvolver habilidades cognitivas e analíticas para navegar de forma eficaz e crítica em ambientes digitais em constante mudança. De acordo com a Entropía Educativa (2023),[31] plataformas como o Facebook e o YouTube adaptam os feeds de notícias dos usuários,[32] o que pode resultar em exposição limitada a informações que confirmem suas opiniões anteriores, contribuindo assim para a polarização e a desinformação. Além disso, um relatório da UNESCO destaca a importância da alfabetização digital e midiática para o fortalecimento das habilidades analíticas e de discernimento na era digital.[33] Portanto, para estimular o desenvolvimento de habilidades cognitivas e analíticas em um mundo tecnológico, é fundamental promover a educação continuada em competências digitais, iniciar a alfabetização midiática desde cedo e praticar a verificação de informações antes de compartilhá-las on-line. Essas habilidades nos permitem navegar de forma crítica e consciente em um ambiente digital em constante mudança, aprimorando nossa capacidade de adaptação e de tomar decisões informadas
Que medidas podemos tomar para usar a mídia social de forma responsável e contribuir para um desenvolvimento mais inclusivo e sustentável? Para promover o desenvolvimento inclusivo e sustentável por meio do uso responsável das mídias sociais, é fundamental adotar práticas éticas e colaborativas que promovam a diversidade, a empatia e a participação ativa on-line. De acordo com um relatório da ONU,[34] Promover a ética digital e a responsabilidade on-line é fundamental para criar um ambiente on-line seguro e respeitoso para todos os usuários. Da mesma forma, a participação dos cidadãos na regulamentação da mídia social, destacada em um estudo da Universidade de Oxford, é vital para promover a transparência e a justiça na era digital.
Por outro lado, o respeito à privacidade dos outros, o combate à desinformação e o incentivo à diversidade de opiniões são essenciais para o uso responsável das mídias sociais. Participar de iniciativas de capacitação digital e de alfabetização midiática também é essencial. Essas ações não apenas fortalecem nossa ética on-line, mas também contribuem para a formação de uma comunidade on-line mais inclusiva, solidária e sustentável. Além disso, medidas como educação em alfabetização digital, verificação de informações e proteção da privacidade são fundamentais para usar a mídia social de forma responsável e contribuir para um desenvolvimento mais inclusivo e sustentável.
Conclusão
O uso das mídias sociais provou ser uma ferramenta poderosa para a comunicação, a participação dos cidadãos e a disseminação de informações relevantes. Nas esferas social, política e cultural, essas plataformas simplificaram a organização de protestos, a disseminação de diversas expressões culturais e a participação em debates sobre questões importantes. Para os atores comprometidos com o uso eficaz das mídias sociais na busca de informações oportunas, sugere-se promover a transparência na divulgação de dados, verificar a veracidade das notícias antes de compartilhá-las, incentivar o debate construtivo e respeitoso on-line e estar atento à desinformação e à manipulação nesses espaços digitais. É essencial que tanto os governos quanto os cidadãos se comprometam a usar a mídia social de forma responsável, ética e consciente, aproveitando seu potencial para informar, educar e mobilizar a sociedade para causas justas e relevantes.
Notas de fim:
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- Banco Mundial. “El impacto de las redes sociales en el desarrollo”. Washington, D.C.: Banco Mundial, 2023. ↑
- Comisión Económica para América Latina y el Caribe (CEPAL). “La brecha digital en América Latina y el Caribe: desafíos para la inclusión social”. CEPAL (2020), https://www.cepal.org/en ↑
- Organización de las Naciones Unidas para la Educación, la Ciencia y la Cultura (UNESCO). “Internet y las redes sociales: oportunidades y desafíos para la educación”. UNESCO (2023), https://www.unesco.org/en ↑
- Caballero, Raquel. 2018, 23 de julio. “El uso equilibrado de las redes sociales y la tecnología. Aplicar nuestra inteligencia emocional”. LinkedIn. https://www.linkedin.com/pulse/el-uso-equilibrado-de-las-redes-sociales-y-la-aplicar-caballero/?originalSubdomain=es ↑
- Gallego Trijueque, Sara. 2011. “Redes sociales y desarrollo humano”. BARATARIA. Revista Castellano-Manchega de Ciencias sociales 12: 113-121. https://www.redalyc.org/pdf/3221/322127622007.pdf ↑
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- Álvarez Pecol, Javier. 2023, 30 de junio. “Si no estás en RRSS, estás en na”. IPSOS. https://www.ipsos.com/es-pe/si-no-estas-en-rrss-estas-en-na ↑
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